21 de jul. de 2020


Da série - As Instituições de Saúde Porto-Alegrenses:


Rita Lobato, a  Primeira Médica formada do Brasil



Fonte Wikipédia


                                                                                                          Fernanda Sayão Lobato Teixeira


Em um mundo onde o machismo ainda é muito presente, é essencial, enquanto pesquisadores da memória, destacarmos os feitos das mulheres na História, principalmente em áreas pelas quais as mesmas sempre foram excluídas, e que com sua luta por igualdade, nunca desistiram de seus direitos e principalmente sonhos.

Natural de São Pedro do Rio Grande, Rita Lobato Velho Lopes foi a primeira mulher formada em medicina no Brasil. Nasceu em 09 de junho de 1866 e vinha de origem abastada, filha de Rita Carolina Velho Lopes e Francisco Lobato que era um rico estancieiro e comerciante de charque gaúcho, alem de ter dois irmão.

Desde muito cedo, Rita mostrava interesse em ser médica, algo que era impossível para a época, já que somente homens poderiam vestir um jaleco e salvar vidas. Todavia, com a reforma Leôncio de Carvalho aprovada em abril de 1879, ela se viu diante da grande oportunidade. Sempre foi considerada uma aluna muito aplicada, apresentando ótimas notas.

 Anos depois, em 1884, Rita e sua família foram para o Rio de Janeiro, onde seus irmãos estavam começando a mostrar interesse pela vida acadêmica, isso despertou o seu desejo de ser médica, assim se matriculando na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e permanecendo por 2 anos na instituição.

Devido a uma discussão entre seus irmãos e os professores a respeito da reforma, seu pai, Francisco Lobato, decidiu sair da capital carioca e levar sua família para a Bahia, onde Rita iria continuar seus estudos, obtendo matricula no mês de maio de 1885.

Sua chegada na faculdade da Bahia foi cordial, sendo admirada pelos professores e colegas. Apresentou excelentes notas em disciplinas de Física Medica, Anatomia Geral, Fisiologia Patológica, Toxicologia.  Sua tese de doutorado com o titulo O Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesaariana foi apresentada em 30 de setembro e aprovada em 24 de novembro do mesmo ano, sendo considerada com grande honra, a primeira mulher formada em medicina do país.

 Casou-se com Dr. Antônio Maria Amaro de Freitas em 18 de julho de 1889 em Rio Pardo, pelo qual tiveram uma filha, Isis Lobato Freitas.

Em 1910, Rita voltou para a sua vida médica após concluir cursos especializastes na Argentina, e retornou para sua cidade natal, pela qual forneceu consultas gratuitas até 1925, em clinicas que eram chamadas de Clínicas de Senhoras. Aos 59 anos, decidiu encerrar sua carreira médica e doou seus equipamentos para hospitais.

Após a morte de seu marido, Rita se envolveu nas causas do movimento feminista, principalmente pelo direito ao voto, acompanhando diversas vitórias mais a frente. Filiou-se ao partido Libertador, em 1934, e em 21 de agosto daquele mesmo ano, foi eleita a primeira mulher a ocupar o cargo de vereadora de Rio Pardo.

Referencias:
CIÊNCIA E CULTURA. Primeira médica saiu da Famed em 1887. Disponível em: http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/noticias/primeira-medica-saiu-da-instituicao-em-1887/
COSTA, Hebe A. Elas, as Pioneiras do Brasil. A Memorável saga dessas Mulheres. São Paulo: Scortecci, 2005. https://books.google.com.br/books?id=WW_YBAAAQBAJ&printsec=frontcover#v=onepage&q=Rita%20Lobato&f=false
MUSEU DE HISTÓRIA MEDICINA (MUHM). Rita Lobato: primeira mulher a formar-se em medicina Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TbHmDDL8_qo
WIKIPEDIA, A Enciclopédia Livre. RITA LOBATO. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Rita_Lobato


14 de jul. de 2020

As Instituições de Saúde Porto-Alegrenses: 
sua História e realidade

Beneficência Portuguesa de Porto Alegre

Fernanda Sayão Lobato Teixeira

Em tempos de crise na saúde mundial, é extremamente importante ressaltar a importância dos serviços de saúde, como hospitais, clínicas, prontos-socorros, unidades básicas, e principalmente, não só as instituições, mas diretamente os profissionais que nelas exercem o seu trabalho, assim tornando as instituições que são, pela sua dedicação e esforço em poder salvar vidas, além de mostrar suas realidades perante esta área.
Uma das instituições que iremos se aprofundar em seu histórico, é o hospital Beneficência Portuguesa de Porto Alegre, ou originalmente Sociedade Beneficente e Hospitalar da Colônia Portuguesa de Porto Alegre, fundado em 26 de fevereiro de 1854 pelo vice-cônsul de Portugal, Antonio Maria do Amaral Ribeiro e membros da elite portuguesa que permaneceram com suas famílias em terras gaúchas após a chegada da comitiva a colônia, assim mantendo fortemente a colônia mesmo pós-independência. Devido ao estreito laço dos portugueses com a caridade e a forte influência da igreja católica, não apenas em Porto Alegre, mas em todas as capitanias do país foram criados esses hospitais, ou chamadas na época como Misericórdias, para atendimentos de necessidades de cuidados da comunidade imigrante portuguesa e seus descendentes. Estas instituições foram inspiradas em hospitais construídos em Portugal, como o pioneiro Hospital de Jerusalém, em Évora, no período do reinado do rei D. Afonso Henriques, conhecido como ‘’O Conquistador’’.   
Anterior à fundação da mesma, após entregar o pedido de criação de um hospital português ao então vice-presidente da província, José Gomes de Vasconcelos Jardim, havia terminado a guerra civil Farroupilha com a vitória dos farrapos sobre o Partido Restaurador, composto em sua maioria por portugueses. Devido a isto, o vice-presidente recusou o pedido temporariamente, mesmo o projeto sendo bem recebido. Todavia, se aceito, seria um tanto suspeita a iniciativa.
Segundo Oliveira e Moreira (2010, p. 2) em 1854, com a morte da rainha de Portugal D. Maria II, a comunidade portuguesa de Porto Alegre se viu diante de uma enorme tristeza com o falecimento da monarca, e aproveitando o momento, com o auxilio da imprensa, se retomou a ideia de criação de um hospital para auxiliar esta comunidade e suas gerações futuras, assim sendo criada em 1854.
Inicialmente a instituição não havia uma sede própria, porém já contava com cerca de 550 integrantes, com um fundo de com um fundo de 5:920$680 réis. Desta forma, foi firmado um acordo entre os responsáveis pela futura construção do hospital e a Santa Casa de Misericórdia, para assim iniciar aos poucos as atividades médicas. Com a quantia de fundo arrecado pelos associados, em 28 de maio de 1858 foi comprada uma casa na antiga Rua da Figueira, atual Coronel Genuíno, no centro histórico.
Com o surto de cólera em 1867, quando diversos pacientes foram salvos no ambulatório original, a ideia de uma sede maior tomou conta. 
Os associados iniciaram a construção definitiva do hospital em um terreno localizado no Caminho da Aldeia, atual Avenida Independência. As primeiras obras se iniciaram em 29 de junho de 1867. Com o auxilio de doações, eventos e leilões, o prédio foi inaugurado em 29 de junho de 1870.


Sede oficial do hospital no século XIX.  


Antigo Salão Nobre do prédio histórico, com quadros de todos os sócios. 

No inicio de 1871, foi feita a primeira capela da instituição, sendo instalado seu primeiro capelão, o Padre Joaquim Cirilo da Cunha.
Em 1873, a cidade enfrentava uma enorme enchente, desabrigando os moradores da margem do Guaíba. Em 8 de outubro do mesmo ano, a Câmara dos Vereadores de Porto Alegre recebe o oficio do 1° Secretário da Sociedade Portuguesa de Beneficência pondo a disposição todas as áreas vazias do hospital e oferecendo alimentos as família desabrigadas. (Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1866-1875). Assim, quebrando o costume do hospital de atender apenas portugueses e descendentes, e agora atendendo todos os públicos. 

Após a mudança para sua nova sede, a Beneficência Portuguesa mostrou ampliar sua presença na sociedade porto-alegrense. Em 1884, participou do movimento local de emancipação de escravos contribuindo com a doação de cartas de alforria. Houve um expressivo aumento de atendimentos e associados, além do aumento de várias formas de doações. Foram feitas melhorias nas instalações em 1892, sendo criadas salas para consultórios na parte térrea do prédio, salas maternais, como também uma farmácia e dois anos depois, foi aparelhada a sala de cirurgia.

Sala maternidade do hospital no século XIX.

Do século XX até os dias atuais, a Sociedade tivera uma grande evolução, com a instalação de um Gabinete de Radiologia, participando de eventos como o IV Congresso Sul-Americano de Neurocirurgia, que foi um marco na vida médica e científica de Porto Alegre, além de adquirir uma extensa área de terra em Gravataí, para a criação do Retiro da Velhice. Além disso, em 1996, seu regulamento foi reformulado para se adequar ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar das dificuldades que o hospital se viu diante, já no século XXI, em 2003 o hospital foi destacado com o segundo lugar em bom atendimento no estado. Porem, em 2007, pelo INSS teve sua execução decretada, devendo passar por um leilão, mas o processo foi revertido judicialmente. Infelizmente sua condição não é a das melhores, com uma dívida de cerca de 18 milhões de reais e sofrendo com a falta de repasses de verbas estatais.

Referências:
Beneficência Hospitais. Disponível em: http://www.beneficenciars.org.br/institucional-historia


CHAVES, Larissa Patrón. AS SOCIEDADES PORTUGUESAS DE BENEFICÊNCIA DO RIO GRANDE DO SUL - REPRESENTAÇÕES E ALTERIDADE. 2004. Disponível em: http://cdn.fee.tche.br/jornadas/2/H1-04.pdf

OLIVEIRA, Daniel; MOREIRA, Paulo Roberto Staudl. SAÚDE, CURA E ASSOCIATIVISMO O ACERVO DA SOCIEDADE E HOSPITAL BENEFICÊNCIA PORTUGUESA DE PORTO ALEGRE.  X Encontro Estadual de História, AHPURS. Julho de 2010, Santa Maria –RS. Disponível em: http://www.eeh2010.anpuh-rs.org.br/resources/anais/9/1279056421_ARQUIVO_saude_cura_acervo_ANPUH.pdf

OLIVEIRA, Clóvis Silveira de. Porto Alegre - A Cidade e sua Formação. Porto Alegre: Editora Gráfica Metrópole S. A., 1993, pgs. 244 a 250

Porto Alegre. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Cultura,  Arquivo Histórico Moysés Velhinho - Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1866-1875; v. XI. Porto Alegre, UE/Secretaria Municipal da Cultura, 2001. 295p.
Wikipédia. Beneficência Portuguesa de Porto Alegre. Setembro de 2009.  Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Benefic%C3%AAncia_Portuguesa_de_Porto_Alegre



6 de jul. de 2020


As Instituições de Saúde Porto-Alegrenses: sua História e realidade

Santa Casa de Misericórdia


Fernanda Sayão Lobato Teixeira


A Santa Casa de Misericórdia, ou conhecida inicialmente como Hospital da Caridade de Porto Alegre, é o hospital mais antigo do Rio Grande do Sul e está diretamente interligada com o início da história da capital.
Porto Alegre teve sua fundação em 1772, no período em que os dois países ibéricos disputavam domínio das terras brasileiras. Muitos foram os acordos firmados para resolver esse impasse, até que em 1801, o estado gaúcho se tornou domínio do império português.
Como não havia hospitais neste período e os enfermos eram atendidos a domicílio e em albergues, o príncipe regente Dom João VI permitiu que o Irmão Joaquim Francisco do Livramento – que era conhecido por percorrer as vilas coloniais e fundar instituições de saúde aos necessitados, como a Santa Casa de Misericórdia do Desterro, em Santa Catarina – criasse uma instituição semelhante em Porto Alegre também.  Em 1903, iniciara a construção da primeira Santa Casa na capital. Recebeu o status de Misericórdia em 1814, recebendo rendimentos que seriam entregues para aplicar na construção.
As primeiras salas de enfermaria e a capela Senhor dos Passos, foram inauguradas em janeiro de 1826, neste período o administrador era o próprio presidente da Província, o Visconde de São Leopoldo, que vinha fazendo um grande trabalho no desenvolvimento da instituição.
Conforme o Compromisso da Misericórdia de Lisboa (conjunto de regulamentos de administração das Santas Casas de Misericórdia, aprovada pelo rei D. Manuel I), a instituição tinha como objetivo acolher crianças abandonadas, cuidar dos doentes, amparar os mais velhos que não tinham onde se asilar, enterrar os mortos, combater epidemias e tratar dos mais pobres e escravos que procuravam a instituição para curar das diversas enfermidades. Além disto, a Santa Casa socorreu militares feridos na Guerra Civil Farroupilha e a Guerra do Paraguai.
A instituição se viu diante de várias doenças epidêmicas, como a febre amarela e a cólera abrigando diversos doentes. Diante disto, foi preciso reforçar os cuidados sanitários e criar a sua própria farmácia.

Hospital Santa Casa de Misericórdia no século XX.



O cenário do desenvolvimento científico da medicina no estado, tomou forma a partir do início do século XX, com a fundação da primeira faculdade de Medicina do Rio Grande do Sul em 1898. Isso trouxe uma imagem de transformação nas condições de exercício e ensino da área médica, representando uma grande expansão da ciência daquela pequena instituição. Outro projeto foi idealização da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, conhecida atualmente como a Faculdade de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Diante dessa enorme transformação que a Santa Casa vinha tendo com o passar do tempo, a instituição resolveu criar um amplo complexo de hospitais com suas determinadas especialidades. São elas: o Hospital São Francisco (1930 — destinada para atendimento aos pacientes privados, com o objetivo de melhor cumprir a missão da Misericórdia), o Pavilhão Daltro Filho (1940 — destinada para a Maternidade Mário Totta e enfermarias e consultórios), o Hospital São José (1946 — destinada para a neurocirurgia), o Pavilhão São Lucas (1948 — destinada para a hematologia), o Pavilhão Cristo Redentor (1948 — destinada para enfermarias e serviços), o Hospital da Criança Santo Antônio (1953 — destinada para a pediatria), o Pavilhão Pereira Filho (1965 — destinada para a pneumologia), o Hospital Santa Rita (1967 — destinada para a oncologia) e o Hospital Dom Vicente Scherer (2001 —  destinada para transplantes).
No século atual, a instituição gaúcha é conhecida por ser a pioneira no país por realizar transplantes de rim e pâncreas, transformando a Santa Casa em um dos maiores centros de transplante de órgãos da America Latina. Além disso, com o advento da tecnologia, foi a principal ferramenta na contribuição no crescimento da ciência que a instituição dispõe, a qualificação dos profissionais e a dedicação dos mesmos.
Apesar dos tempos de crise que a instituição passara dentro desses 516 anos de existência, a Santa Casa de Misericórdia sempre deu o seu melhor pautado pela ética, moral, humanismo, equidade e credibilidade, com o intuito de difundir sua história e além claro, empreender, inovar através do desenvolvimento, do ensino e da pesquisa em prol da vida dos porto-alegrenses. 


Referências

BARROSO, Vera Lúcia Maciel. CENÁRIOS DOCUMENTAIS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PORTO ALEGRE: FONTES DE PESQUISA PARA A HISTÓRIA DA CIDADE E DO RIO GRANDE DO SUL. XXVII Simpósio Nacional de História – Conhecimento histórico e dialogo Social – ANPUH. Jul. de 2013. Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364261246_ARQUIVO_TEXTOARQUIVOSANTACASAPORTOALEGREVERABARROSOsemresumo.pdf

CENTRO HISTÓRICO DA SANTA CASA. História. Disponível em:  https://www.santacasa.org.br/pagina/sobre-a-santa-casa

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA. Sobre a Santa Casa. Disponível em:  https://www.chcsantacasa.org.br/chc-santa-casa/historia/

STREB, Luís Guilherme. Santa Casa de Misericórdia, Hospício São Pedro e Loucura: Notas sobre os primórdios da Psiquiatria em Porto Alegre. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Vol. 29 no. 1, Porto Alegre Jan./Abr. de 2007.  


Wikipédia. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.  Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Casa_de_Miseric%C3%B3rdia_de_Porto_Alegre 


 

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