28 de abr. de 2010

1º de Maio de 1906: Porto Alegre Cinco Meses Antes da Greve Geral



O 1° de Maio é uma data simbólica para os trabalhadores, principalmente para o movimento operário. Em Porto Alegre não poderia ser diferente. No marcante ano de 1906, as tradições se mantiveram com festejos que incluíam a banda da Brigada Militar, piqueniques, passeatas e fogos de artifício. A imprensa local destacou o ambiente harmônico entre operários e deu ênfase ao caráter festivo do dia.


Os discursos proferidos na ocasião não transpareciam a atmosfera de uma cidade a poucos meses de viver uma inédita greve geral, que fechou as portas de grande parte do comércio, obras e indústria durante 21 dias.



A greve geral iniciou-se em 3 de outubro. Mais de três mil operários, dos mais variados setores, uniram-se em torno de uma reivindicação: a diminuição da jornada de trabalho para oito horas diárias. Naquela época a jornada chegava a onze ou até 14 horas por dia. Característica importante dessa paralisação foi a participação de trabalhadores estrangeiros em grande número e de mulheres operárias.



As negociações chegaram ao fim, no momento em que Francisco Xavier da Costa - líder do operariado e de tendência socialista - e Alberto Bins - representante dos industriais - fecharam acordo. Estabeleceu-se então a jornada de trabalho de nove horas.



Mesmo após a greve de 1906, o caráter festivo do dia do trabalhador não se modificou. Porém, é notável que o aspecto simbólico e histórico deste feriado foi dissipando-se ao longo do tempo. Hoje o 1° de Maio é concebido como um dia de descanso, livre daquele significado reivindicatório e festivo que um dia ele teve.

Reprodução dos Documentos:

Imagem 1 - Jornal O Independente , ano 6, n° 503. Porto Alegre, 7 de outubro de 1906. p. 1, 6ª coluna.

Imagem 2 - Jornal A Federação , ano 23, n°101. Porto Alegre, 1° de maio de 1906. p. 1, 1ª coluna.

Acervo do AHPAMV

19 de abr. de 2010

“Vá Reclamar ao Bispo!”
Assim Funcionava no Passado.

Nesta semana, publicamos a transcrição paleográfica do documento pelo qual Porto Alegre tornou-se freguesia. A transcrição foi realizada pela historiógrafa e arquivista do Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre, Vanessa Gomes de Campos. Os originais encontram-se na Arquidiocese do Rio de Janeiro.




No mês passado, Porto Alegre comemorou mais um aniversário, 238 anos. Nasceu a capital dos gaúchos no século XVIII, tempo em que, no nosso País, a administração era diferente. Colônia de Portugal, o Brasil seguia a organização dos núcleos urbanos como o previsto pelo sistema político-administrativo português.
A freguesia era a célula base desta estrutura administrativa. O termo freguesia é uma adaptação da Paróquia, núcleo que se constitui de uma igreja e das pessoas que vivem em torno dela.
Em torno de uma paróquia, as pessoas se concentravam buscando o amparo espiritual e a organização social. Nesse período histórico, a população do Brasil era católica.
Em Portugal, não havia separação entre a Igreja e o Estado, assim a coroa portuguesa aproveitava as paróquias e nela instalava a administração civil. A Igreja tornava-se responsável pelo crescimento das comunidades. Na missa, discutia-se o bem da alma e o bem comum; ao pároco, cabia registrar quem nascia e quem morria. Detinha a Igreja legalmente os mecanismos de controle social , servindo de representante do Estado.
Nascia uma cidade naquele tempo por um ato eclesiástico que regularizava a paróquia , a freguesia que ali estava se instalando.
A Provisão Episcopal de 26 de março de 1772 , assinada pelo bispo Dom Frei Antonio do Desterro, é, neste cenário histórico, o documento oficial de criação, a certidão de nascimento de Porto Alegre.
Apresentamos este documento eclesiástico, lembrando o contexto de um Brasil de poucos séculos, fruto da união do Estado e da Igreja Católica e que norteou a vida dos portugueses e brasileiros fazendo parte da nossa tradição administrativa.

Baseado no texto Porto dos Casais - Criação da Freguesia - Fundação de Porto Alegre, do Padre Rubem Neis, quando de sua posse no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, s/d.






Clique nas imagens abaixo para ampliá-las






[fl. 190v]
Edital pelo qual foi Sua Excelencia Reverendissima mudar o orago de São Francisco
[apagado] á nova Freguesia erigida no Porto dos Cazaes, hora Villa
[de Por]to alegre do Destricto de Viamão, para o de Nossa Senhora Madre
de Deos e Vigararia da Vara, que athe agora se conservava junto a Matriz
de Nossa Senhora da Conceicão de Viamão para a dita nova Villa, e Freguesia Nossa
Senhora Madre de Deos de Porto alegre na forma abaixo.

[Dom Frei] Antonio do Desterro por merce de Deos, e da Santa Sé Apostolica Bispo do Rio de Janeiro, e do Conselho
[de Sua Mages]tade Fidelissima. &ra. Porquanto o Illustrissimo e Excelentissimo Senhor Marques Vice Rey deste Estado
atendendo unicamente ao melhor estabelecimento da Provincia do Rio grande, Viamão, e Rio pardo deste
[nosso Bispa]do, e á melhor utilidade do Real serviço de Sua Magestade, que Deos guarde, e do bem commum dos Povos, man
[da] mudar a Capital desse Governo que athé agora se conservava junto a Igreja Matriz de Nossa Senhora
[da Conceição] de Viamão para o Lugar a que chamão Porto dos Cazaes do mesmo Destricto de Viamão/ onde se acha no
[va]mente estabelecida a Freguesia de São Francisco/ erigindo nesse lugar uma nova Villa com o titulo de Porto
[ale]gre: E nos consta ser muito do seu agrado, que a Igreja Matriz da dita nova Villa tenha a Invocação
[de] Nossa Senhora Madre de Deos pela especial devoção, que tributa a esta Senhora, como sua Madrinha: De
[sejan]do Nos conformar-nos com a pía, e devota intenção do dito Illustrissimo, e Excelentissimo Senhor Marques Vice Rey na e
[reção] deste novo Orago, e satisfazer, quanto nos he possivel a sua vontade: Havemos por bem mudar, como
pelo prezente Nosso Edital mudamos, a Invocação de São Francisco, que athé agora tinha a Referida nova
[Freguesia] erigida no lugar do Porto dos Cazaes do Destricto de Viamão, que hora fica sendo Villa de Porto alegre
[para a] Nossa Senhora Madre de Deos cuja Imagem mandamos seja collocada no Altar mor da Igreja Matriz
[da dita] nova Villa e Freguesia, como Orago, e Titular della, que fica sendo, tirada a de São Francisco, no cazo de já se ter collo
[cado]: E que os moradores da dita nova Villa, e Freguesia de Porto alegre Reconheção, e invoquem sômente aquela Senhora
[por] sua Titular, e Padroeira, como á tal Recorrão nas suas necessidades: E que nos assentos, termos, e mais papeis que da
qui em diante se fizerem no Referido Lugar por pessoas da nossa Jurisdição se ponha o titulo da Villa, ou Freguesia
[de] Nossa Senhora Madre de Deos de Porto alegre de Viamão: E porque nos parece tãobem muito conveniente para o bem
[commum] dos Povos, e maior utilidade das Almas, que a Vigararia da Vara, que athé agora se conservava junto
[a mesma] Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceiçam de Viamão deste nosso Bispado, se mude para esta nova Villa, e Freguesia
[de] Nossa Senhora Madre de Deos de Porto alegre: Havemos por bem de mudar, como pelo prezente nosso Edital mu
[da]mos, a dita Vigararia da Vara para a dita nova Villa, e Freguesia de Nossa Senhora Madre de Deos de Porto alegre, e
[man]damos que nella tenhão a sua Rezidencia os nossos Vigarios da Vara, que depois da data deste prove
mos nessa occupação, e que para ela fação mudar o Cartorio, e tudo o que a elle pertence. E para que este nosso Edital
[e]fetivamente se observe, será publicado na Igreja Matriz da dita nova Villa; e Freguesia de Nossa Senhora Ma
dre de Deoz de Porto alegre, e na de Nossa Senhora da Conceiçam de Viamão, e Registado no Cartorio dessa Comarca, e no Livro
[do] Tombo da dita nova Matriz, depois de o ser na nossa Camara Ecclesiastica. Dado em o nosso Palacio Episco
pal desta Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro sob nosso Signal, e sello, aos 18 de Janeiro de 1773 //
Com a Rubrica de Sua Excelencia Reverendissima, que dis = Bispo = Lugar do Sello = Demandado de Sua Excelencia
[Reverendissima o] Conego Jozé de Souza Marmelo Secretario. E não se continha mais couza algũa no Refe
[rido Edital, que bem e fielmente Copiei fis copiar da propria, que] me Reporto Rio de Janeiro [apagado]
[E eu] Padre Bernardo Joze Duarte Ferreira Escrivão da Camara Eccleziastica Sobscre
vi, e assignei


Bernardo Joze Duarte Ferreira






ARQUIVO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO
Livro de Registros de Portarias e Ordens Episcopais, número 02 (1761-1774), fls. 190v




Transcrição Paleográfica realizada através de uma reprografia existente no Arquivo Histórico
da Cúria Metropolitana de Porto Alegre (AHCMPA).

Porto Alegre, março de 2010.
Vanessa Gomes de Campos
Historiógrafa e Arquivista
AHCMPA



12 de abr. de 2010

Um ator no projeto de Educação Patrimonial do
Arquivo Histórico de Porto Alegre




Por Cícero Neves*

Meu primeiro contato com o Arquivo Histórico Moysés Vellinho foi para fazer uma pesquisa. Já na chegada, tive uma grande surpresa. Eu não imaginava que no meio da Avenida Bento Gonçalves, um local rodeado de concreto, haveria um lugar assim. Até porque minha imagem de um arquivo, mesmo sendo ele histórico, era no melhor estilo prédio público, quadrado e cheio de janelas fechadas. Aquele ambiente de casarões antigos, árvores frondosas e pedras gigantes, já na minha chegada, trouxeram grande satisfação, o que tornou minha pesquisa menos maçante. Lembro-me de comentar com várias pessoas esta impressão.

O meu segundo contato com o Arquivo histórico Moysés Vellinho foi de trabalho. Uma amiga me indicou para atuar em um novo projeto que estava sendo desenvolvido. A remuneração que o projeto proporcionava e a satisfação de estar trabalhando naquele local foram dois grandes estímulos, além é claro do projeto em si.

Fiquei muito empolgado com a proposta. Tratava-se de falar sobre música, um tema muito empolgante para mim, e dar uma oficina de ritmo para os participantes. Eu nunca tinha dado tal oficina, mas a temática e o desafio foram o combustível para querer o trabalho. Então veio a resposta: eu havia sido escolhido. Fiquei muito feliz, e minha vontade de fazer o trabalho aumentou ao ver o cenário, uma grande tenda repleta de códigos musicais (teclas de piano pintadas ao fundo, instrumentos antigos pendurados, sinos de vento, um toca discos e um fantástico gramofone). Aquele cenário em contraste com a exuberância do local causava a impressão de estarmos entrando em outro mundo.


Mas a qualidade do trabalho está ligada diretamente às pessoas que o fazem e o quanto se envolvem na sua construção, e a equipe do Arquivo Histórico possibilita, com sua competência e dedicação, que este projeto alcance ótimos resultados.

Acredito que o artista, seja ele ator, músico ou artista plástico, não pode ficar fechado no seu mundo e em suas técnicas, ele precisa estar aberto e em contato com o mundo. Trabalhar no Arquivo Histórico Moysés Vellinho possibilita este contato, e assim me tornarei um ator melhor, um ser humano melhor.
Quando fui indicado para o projeto pensei na renda extra que teria. Hoje, depois de dois anos, acrescento o aprendizado extra, a vivência extra e a satisfação extra.

*Cícero Neves é ator e produtor da Ato Espelhado Companhia Teatral, onde desenvolve pesquisa em confecção de brinquedos e instrumentos produzidos a partir de sucata. Participa das atividades de Educação Patrimonial do AHPAMV desde 2008 interpretando o personagem Modulatus do Projeto Sensibilização para a Vida no âmbito humano, cultural e ambiental na vivência lúdica Sons da Natureza - expressão sonora da vida. Essa atividade atendeu 315 crianças até dezembro de 2009.

5 de abr. de 2010

Mapas de Porto Alegre são Tema de Pesquisa

Daniela Marzola Fialho é pesquisadora assídua do
Arquivo Histórico de Porto Alegre. Desenvolvendo sua tese de doutorado em História no PPG/ História da UFRGS, a arquiteta e professora do curso de Arquitetura da UFRGS chama atenção por seu jeito meticuloso de pesquisar. Daniela leu todos os instrumentos de pesquisa - o Guia e os catálogos das Atas e da Correspondência Passiva da Câmara Municipal - e listou tudo que era de seu interesse antes de iniciar o contato com nosso acervo. A seguir ela fala um pouco de sua pesquisa.

Ahpoa - Qual o tema da tua pesquisa?
Daniela - Resumidamente, trata-se da história dos mapas da cidade de Porto Alegre, desde sua fundação até o final do Império. Falando tanto dos mapas catalogados em bibliotecas, como dos que se supõe, por alguma referência, terem existido, mas que estão perdidos. Tento saber quem fez, porque o fez, em que contexto histórico, quais as características desses mapas e suas relações com mapas de outros lugares da mesma época.

Ahpoa - De que forma tu reconheceste na instituição a possibilidade de desenvolver tua pesquisa utilizando nossos acervos?
Daniela -
Em um dado momento, descobri que os originais de alguns dos mapas que eu estava estudando pertenciam ao Acervo do Arquivo Histórico de Porto Alegre. Primeiramente, pesquisei em bibliotecas e na Internet para localizar os instrumentos de pesquisa. Através deles, fui descobrindo as pistas dos mapas e determinando as fontes. Selecionei então os itens que me pareceram tratar dos mapas de Porto Alegre e de seus cartógrafos, para então ir pesquisar diretamente os documentos nos acervos de vocês. Mas isto não teria sido suficiente sem a acolhida dos profissionais deste Arquivo Histórico.


Ahpoa - O que tu encontraste sobre Porto Alegre nas outras instituições que tu visitaste?
Daniela -
Olhei no Museu del Risorgimento, em Bologna, o primeiro mapa de Porto Alegre existente fisicamente, feito por Tito Livio Zambeccari em 1833, além de dados sobre ele. Na Fundação Biblioteca Nacional pude pesquisar os vários mapas de Porto Alegre que eles têm em seu acervo. Em várias bibliotecas, principalmente na da UFRGS, tive acesso a vasta bibliografia sobre a história de Porto Alegre.

Ahpoa - Qual a importância da leitura prévia dos instrumentos de pesquisa?
Daniela -
Os instrumentos de pesquisa nos remetem às fontes e são um resumo do que se pode encontrar nos documentos propriamente ditos. Fico tentando imaginar quanto tempo de pesquisa seria necessário se eu tivesse que ter lido todos os documentos originais, para achar e selecionar os que tratavam do meu assunto de pesquisa. Da forma como esses instrumentos estão organizados, fazendo-se a leitura prévia dos mesmos, pode-se chegar no Arquivo Histórico de Porto Alegre, acessar os documentos que nos interessam de uma forma mais dirigida e mais rápida, e, através deles, descobrir uma rede fascinante de documentos, a qual é preciso limitar para se chegar ao termo de uma tese.
 

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