Sérgio da Costa Franco
Quando se escuta a ladainha dos candidatos a vereador nas próximas eleições, pode-se ver que aparecem no elenco pessoas de todos os ofícios e de todas as camadas sociais, inclusive das mais humildes. É bom que assim seja, pois a Câmara se tornará, dessa maneira, perfeitamente representativa. Só é pena que algumas delas careçam, às vezes, de um básico preparo para enfrentar as tarefas do cargo, o que as faz prisioneiras de assessores ou de espíritos-santos de orelha que não receberam a unção da escolha popular nas urnas.
A paixão da História me fez emendar esse assunto com o momento em que subiu ao Conselho Municipal de Porto Alegre o primeiro representante da classe operária. Isso foi em 1912, precisamente há setenta anos. O Partido Republicano, que era, na prática, o partido único do Estado, pois os federalistas estavam afastados das urnas e não disputavam os fraudulentos pleitos, incluiu, aquele ano, em sua nominata de candidatos a conselheiro municipal, o operário gráfico do Correio do Povo, Francisco Xavier da Costa. Era este, até então, uma liderança operária autêntica, ex-presidente da Federação Operária, organizador de sindicatos e grêmios de trabalhadores, líder de movimentos grevistas. Mas não se tratava de um apedeuta. Era um gráfico esclarecido, cujos artigos não raro apareciam nas colunas do Correio do Povo. E Francisco Xavier da Costa conseguiu marcar positivamente a sua presença no modorrento Conselho Municipal, onde até então só vinham funcionando representantes das chamadas classes conservadoras.
Percorrendo-se os anais daquele Conselho, se verá que Xavier da Costa soube assumir posições corajosas e independentes, ficando, por isso mesmo, vencido em muitas votações. Foi o primeiro que sustentou a conveniência de criar-se um imposto sobre os automóveis. Pediu redução de imposto predial em favor de quem edificasse casas novas e de boa qualidade para moradia barata. Propôs a criação de bonde para operários, com 50 por cento de abatimento nas passagens. Combateu os cortiços e as “avenidas” de cubículos, que eram locados a trabalhadores. Defendeu subvenções a um Ateneu Operário que se achava em construção. Em síntese, marcou um momento de renovação na vereança da Capital.
Caricatura de Francisco Xavier da Costa - possível autoria: A.N. Acervo Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho - AHPAMV |
Esta Crônica, gentilmente cedida pelo hstoriador e jornalista Sérgio da Costa Franco, parte do livro A velha Porto Alegre (2008, p. 202) e originalmente publicada no Jornal Correio do Povo de 30-9-1982, lembra à comunidade porto-alegrense a importância de Francisco Xavier da Costa. Amanhã, dia três de dezembro, é dia do seu nascimento; entregamos hoje aos pesquisadores, o Catálogo do Fundo Privado Francisco Xavier da Costa, instrumento de pesquisa referente ao acervo e que nos aproxima um pouco da vida e obra do sempre “Operário Vereador”.
A Crônica Um vereador operário é um dos documentos acumulados pela família Xavier da Costa e que compõem o acervo, organizado pela sua filha Anita e doado ao AHPAMV em janeiro de 2003.
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