O que são os documentos se
não a mais pura manifestação
de nosso passado histórico?
A memória é para os sujeitos como um fio terra vinculando-o aos seus: seu tempo, seu lugar, suas relações e garantindo o sentido de ser e pertencer. A memória tem como atributo mais imediato“garantir a continuidade do tempo e permitir resistir à alteridade, ao ‘tempo que muda’, às rupturas,o destino de toda vida humana; em suma, ela constitui – eis uma banalidade – um elemento essencial da identidade, da percepção de si e dos outros”. (ROUSSO, 1998, pp.94-95). Neste sentido, a memória constitui e é constituída por este sujeito que se forma e é formado por diversos passados históricos. Passados que não se limitam aos eventos de um determinado período histórico que impactam na sua subjetividade e naquilo que o define como único entre tantos outros. Neste dado período histórico, caracterizado pela intensidade dos avanços tecnológicos, pela sofisticação de computadores e outras máquinas de potenciais cada vez maiores,o sujeito é afastado do contato físico e afetivo com seu passado e delega às máquinas a responsabilidade de guardiãs de suas histórias e memórias. São imagens e textos guardados em memórias tecnológicas. Mas, neste paraíso artificial,o papel mantém-se vivo!
A documentação física, o registro de nascimentos, casamentos, óbitos ou mesmo relatos de uma reunião, ainda não sucumbiu inteiramente aos luxos de uma modernidade (im) palpável. A documentação física ainda luta para sobreviver, obrigando-nos a mirar nosso passado, ajudando-nos a encontrar e reencontrar um pouco de nós e do que fomos.
O que são os documentos se não a mais pura manifestação de nosso passado histórico? O simples ato de tocar e ler um antigo documento é, sem dúvida, uma forma de voltar no tempo; de refletir e se colocar no lugar daqueles que escreveram a História.
A importância da documentação é inestimável. Muito além do registro legal de sujeitos e eventos, a documentação é expressão física da História,é a materialização da mesma em papéis, atas, livros, pois retrata e guarda o que passou, mas que persiste em nós, manifestando-se nos gestos, nos relatos, nas lembranças, nas ruas e nos hábitos. Um jornal do século IX feito de trapos de pano e que segue preservado sem nunca ter sido restaurado é a prova viva de que ainda há muito do passado que merece ser visitado e respeitado, uma vez que, apesar dos avanços tecnológicos constatamos que já fabricamos material mais resistente para registros.
Saibam, há um lugar em Porto Alegre, que guarda essas memórias para que possamos visitá-las e tocá-las. Um lugar, um prédio, uma antiga chácara, um oásis em plena Avenida Bento Gonçalves.
Naquele aconchegante espaço, a saudável curiosidade de um grupo de pesquisadores, vinculados ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trabalho, Saúde e Intersetorialidade (NETSI) do Programa de Pós-graduação em Serviço Social/PUCRS encontrou acolhimento. Conhecer o Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho e ver de perto seu grande acervo transformou-se em um profícuo encontro com profissionais que compartilharam a sua paixão e respeito pela História e suas formas de registro. A oportunidade de conhecer, acessar e ler inúmeras atas de reuniões sobre saúde pública dos Séculos XIX e XX foi de uma riqueza imensurável. Da mesma forma que saber da existência de um espaço com mais de 1 milhão de documentos ampliou concepções sobre fazer pesquisa documental e sobre o que é de fato estar próximo do estado da arte. O Jornal Avante, o Catálogo da Coleção Privada Positivista, as atas de criação do Asilo Padre Cacique, atas de criação de Hospício (nomenclatura utilizada para hospitais em geral), organização de vacinação da população, decisões sobre a organização urbana da cidade de Porto Alegre são algumas das riquezas ali encontradas.
Enfim,o Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho classifica, avalia e arquiva,amparado em um arsenal tecnológico que envolve restauração, climatização e manuseio de milhares de documentos que guardam a história de um
povo e de uma cidade, comprovando que somos seres atemporais, como já referiu o historiador István Jancson: “Podemos tanto ter acesso a bens culturais contemporâneos quanto de qualquer outra época”. Portanto, guardemos com todo cuidado o AHPAMV, pois ali encontramos um pouco de nosso passado e podemos projetar alguns ensaios de futuro.
A equipe do NETSI agradece a oportunidade e parabeniza os responsáveis pelo Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho por sua recepção acolhedora e didática, como também pela evidente competência e paixão que cada funcionário tem pelo que faz. O nosso profundo respeito.
Acadêmico Róger de Souza Michels -
rogermichels@hotmail.com
Prof. Dra. Maria Isabel Barros Bellini - maria.bellini@pucrs.br
NETSI/PPGSS/PUCRS
Telefone: 33534115/33203500 R.4115
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