28 de abr. de 2020

Estreou em 24 de abr. de 2020 

Projeto Desarquivando Arquivo Histórico Moysés Vellinho entrevista Sérgio da Costa Franco parte 4:

   Sérgio da Costa Franco escreveu diversos livros sobre porto alegre, incluindo "Porto Alegre Ano a Ano" (2012), "Crônicas Históricas" (2004), "Porto Alegre E Seu Comércio" (1983), "Santa Casa 200 Anos: Caridade E Ciência" (2003), entre outros fundamentais para compreender a história da cidade. 

   Além disso foi jornalista, advogado, professor e promotor de justiça. Chegou a ser presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, e é também membro do IHGB. Acima de tudo é um dos grandes pesquisadores da história de Porto Alegre. 

   Nesse vídeo, o historiador de POA fala sobre a sua trajetória, desde o momento que se interessou pela temática histórica, até construir sua carreira como historiador. Sérgio da Costa Franco escreve seus primeiros textos publicados no Correio do Povo, antes de colaborar em projetos como historiador. Seu trabalho com fontes primárias começa quando já era funcionário do judiciário em Soledade. Logo, começa a dedicar seu tempo para pesquisas documentais, em jornais e relatórios governamentais para fazer um dos trabalhos mais completos sobre a história de Porto Alegre: o "Guia Histórico" e "POA ano a ano", ambos trabalhos fundamentais para auxiliar o pesquisador no Arquivo Histórico Moysés Vellinho. 

   Sobre os entrevistadores: PROJETO DESARQUIVANDO 

   O projeto nasceu em 2018, a partir da constatação de que era necessário fazer circular o conhecimento guardado e produzido no Arquivo Histórico Moysés Vellinho. Também percebendo que era possível utilizar ferramentas, como a internet e as redes sociais para espalhar o conhecimento histórico, que muitas vezes permanece em círculos muito restritos de pesquisadores. Assim, o projeto Desarquivando busca através de plataformas digitais compartilhar o conhecimento histórico utilizando entrevistas, textos, imagens, etc... 

   Seus apoiadores são principalmente a diretora do AHPAMV Vera dos Santos, a historiadora (até 2018 da EPAHC) Marli Rejani, e os diversos estagiários que passaram pelo Arquivo nesses dois anos. Ainda está no começo, mas as ideias são muitas e as possibilidades também. Enfim, sabemos que nem todos tem o gosto pela disciplina história, mas sabemos que todos tem direito a saber sobre o passado do lugar onde vivem, e isso é o mais importante. 


Atenciosamente,

Equipe AHPAMV

23 de abr. de 2020

Dia Internacional do Livro

   A Secretaria Municipal da Cultura preparou uma ação para comemorar o Dia Internacional do Livro, celebrado nesta quinta-feira, 23 de abril. Na homenagem, colaboradores da SMC participam de um vídeo apresentando leituras de trechos de autores que impactaram as suas vidas. Viva o livro!


Atenciosamente,

Equipe AHPAMV

    19 de abril: Dia do Índio

   Neste dia do Índio (domingo, 19 de abril), para valorizar a herança indígena na construção de Porto Alegre, divulgamos aqui o trabalho de pesquisa do estagiário Guilherme Maffei Brandalise. Este trabalho resultou em um mapa virtual de sítios arqueológicos e evidências históricas da presença indígena (Charrua, Kaingang e Guarani) na cidade de Porto Alegre e região metropolitana. A pesquisa começou em 2018, sob orientação da historiadora Marli Rejani, e continuou durante 2019 e início de 2020, sob a orientação da diretora do Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho Vera dos Santos. O acervo pesquisado é o dessa instituição, além de artigos complementares. O mapa é uma versão reduzida da pesquisa, contendo referências arqueológicas e históricas, mas omitindo locais de presença indígena contemporânea, como o Brique da Redenção e a Lomba do Pinheiro entre outros. Cada camada do mapa representa uma fonte histórica pesquisada:

*Sítios Arqueológicos de presença indígena
*Relato de Dr. Sebastião Leão, 1900
*Indicações de Sítios Arqueológicos no Texto de Gaulier
*Sítios localizados por Brochado (UFRGS)
*Sítios localizados por Guilherme Naue (PUCRS)
*Sítio localizado por Sérgio Leite (Museu antropológico do RS)
*Locais Indígenas na POA Imperial
*Sítio Arqueológico encontrado nas obras da Av. Edvaldo Pereira Paiva

   O objetivo desta pesquisa é Ressaltar a presença pré-histórica e histórica dos povos indígenas - a saber, Guaranis, Kaingangs e Charruas - como ancestral em todos os espaços que hoje por eles são reinvindicados como tradicionais. Também desmistificar os acervos históricos quanto a questão de não haverem fontes sobre os povos indígenas: de fato elas existem, apesar de serem poucas e necessitarem bastante contextualização, pois contam pouco do que queremos saber.

 “Na bibliografia não-arqueológica sobre Porto Alegre há raras menções sobre história indígena e sobre os sítios de ocupação indígena, não porque eles inexistam, mas porque até o presente não houve interesse por parte dos pesquisadores em geral. A pesquisa nos arquivos e na bibliografia em busca de informações para nosso projeto também revelou que o município quase não foi contemplado por projetos arqueológicos empreendidos no Estado. No histórico das pesquisas constata-se que a região metropolitana ficou à margem dos interesses, principalmente devido ao consenso de que os sítios já haviam sido destruídos.”

(Em: NOELLI et. al. O Mapa arqueológico parcial e a revisão historiográfica a respeito das ocupações indígenas pré-históricas no município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Trabalho apresentado no Encontro de História e Geografia do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, em 1994.)

   Desde a escrita do texto citado anteriormente, o interesse pela história indígena de POA cresceu, assim como a presença dos povos indígenas na cidade.

   Este trabalho visa propor um novo olhar sobre as fontes que já são conhecidas há tempos, como os cronistas da Porto Alegre do século XVIII e XIX.

   Com a leitura de bibliografia complementar, podemos situar os indígenas em um contexto mais amplo, refletindo também sobre a própria temporalidade indígena, distinta da linearidade e do conceito de “evolução”, tão caros ao nosso entendimento de história.

https://drive.google.com/open?id=1ml5BHGMHfH8S9-ZyMb6wGMXXb6zR8hPQ&usp=sharing

Atenciosamente,

Equipe AHPAMV

14 de abr. de 2020

Projeto Desarquivando entrevista Sérgio da Costa Franco #3. 

   No terceiro vídeo da série entrevistando o historiador e advogado Sérgio da Costa Franco, a diretora do Arquivo Histórico de Porto Alegre, a arquivista Vera dos Santos pergunta sobre os desafios e possibilidades da pesquisa nos arquivos da cidade, os quais Sérgio conhece muito bem. Também pergunta sobre o futuro dessas instituições e como o pder público pode valorizar mais esses locais que guardam as memórias mais antigas da cidade e do estado. Sobre a entrevistadora: Vera Lúcia dos Santos Santos é a primeira mulher negra formada pelo curso de arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fazendo jus a esse papel, se tornou a diretora de uma das mais importantes instituições de memória do Rio Grande do Sul, o arquivo histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho. Desde que assumiu este cargo, vêm trazendo atividades relevantes para dentro dos casarões do século XIX que abrigam o arquivo, como exposições, visitas guiadas, eventos para debater a história da cidade e os diferentes grupos que a constróem, além de apoiar iniciativas de economia solidária, e cultura gratuita para a população da cidade. 

https://youtu.be/0BVKLOg0MgQ

Atenciosamente,

Equipe AHPAMV

9 de abr. de 2020


Organização pública e iniciativa popular em foco: a epidemia de cólera em Porto Alegre em meados do século XIX

Thiago Frazzon Arend

Durante o século XIX, toda a noção de saúde que havia em Porto Alegre era, assim como no restante das províncias do Império, baseada nas concepções da medicina Hipocrática. Segundo tais preceitos, as doenças nasciam e se difundiam por três vias: os lugares, os ares e as águas. Sendo assim, os esforços públicos relacionados à saúde, salubridade e controle de doenças eram destinados a manter os locais limpos, eliminar odores suspeitos da cidade e conservar limpas as águas. Longe de tecer uma crítica a este conjunto de princípios medicinais, devemos entender que ele era amplamente difundido e aceito na época e, por mais que as políticas públicas se mostrassem ativas no controle contra doenças e males dos mais diversos, elas dependiam dessas ideias e não podiam ir contra ou muito além delas.

Mapa de Porto Alegre durante a década de 1840.





Em meados do século XIX, época em que chegavam as primeiras notícias comentando que o cólera já assolava as províncias do norte do Império e que surgiam algumas medidas de contenção da epidemia na Capital, era de se imaginar que as condições sanitárias não eram as melhores possíveis. O esgoto, quando não atirado simplesmente pelas janelas das vizinhanças, era recolhido de casa em casa e conduzido em espécies de barris, os quais eram levados por escravizados até um trapiche no rio, e então despejados – esses profissionais eram conhecidos como “tigres”. Além disso, poucas eram as fontes de água potável espelhadas pela cidade, e o sistema de coleta de água por meio dos “chafarizes públicos” ainda estava em fase de construção. 

Foi criada na cidade, em 1851, a Comissão de Higiene Pública, já em um contexto no qual a epidemia se espalhava pelo mundo. Segundo Vladimir Ávila, as funções da Comissão se resumiam na


“regulamentação e controle nas artes de curar (ou seja, a partir de então, médicos, boticários e cirurgiões teriam seu registro realizado na Câmara Municipal, mas sob o aval desta Comissão); fiscalização de boticas, enfermarias, mercados e prisões; coibição dos atos considerados perniciosos à saúde da população (como o descarte de lixo e matérias fecais em locais inadequados); por fim, cabia à Comissão propor melhorias para os aspectos sanitários da cidade” (ÁVILA, 2017:87)

            O Código de Posturas Municipais que servia ao propósito de disciplinar as condutas da população em benefício do melhor funcionamento da cidade, já continha, desde antes do surto de cólera, medidas relativas à limpeza dos lugares e das vias urbanas, indo de acordo com os pressupostos da medicina Hipocrática. O Código de Posturas Policiais da cidade, publicado em 1838, dispõe sobre a punição para aqueles que descartassem lixo e outras substâncias impróprias em locais não destinados a esse propósito.

                                                  “Toda a pessoa que de dia, ou de noite for encontrada pelos encarregados da execução das Posturas á lançar ciscos, e a fazer quaesquer outros despejos de immundicias fora dos indicados lugares, sendo livre soffrerá a prizão por tres dias na Cadea, e pagará dentro della a multa tres mil reis, e sendo escrava será condusida, á Cadea e ahi castigada com cincoenta açoutes, e immediatamente solta.” (ÁVILA, 2017:90 apud AHPAMV - Código de Posturas Policiais, reformado e aprovado pela Lei Provincial de 23 de Novembro de 1837 e publicado por Edital em 19 de Fevereiro de 1838)


Apesar de todas as medidas de precaução, era apenas uma questão de tempo para que a doença alcançasse a cidade; fato que se concretiza por volta do final de 1855. A Câmara Municipal, mesmo antes da proliferação da doença, não demorou a agir e tampouco mediu esforços para atrasar e enfraquecer as consequências da epidemia. Foram recomendadas providências quanto à limpeza da cidade, de modo a desacelerar o surto que estava por vir. Os Fiscais das Freguesias da Aldeia, de Viamão, de Belém e das Dores foram avisados no sentido de conservarem suas jurisdições limpas e higienizadas. Além disso, foi lançada uma Portaria da Presidência “ordenando o uso de carroças, exclusivamente na condução do lixo das ruas da Cidade, principalmente a da Praia, a Nova da Praia, a Nova e do Poço” (Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1846-1855).



Representação da Igreja da Matriz e do Palácio do Governo durante procissão, em 1852.




Nesse meio tempo, a população deve ter se assustado, pois, em novembro do mesmo ano as carroças já passavam diariamente pelas ruas de Porto Alegre recolhendo o lixo. O descarte era feito para as ilhas através de uma barca designada para essa função. Além disso, foram designados outros tantos pontos com aterros para dar cabo ao descarte de imundícies. Livros com métodos de tratamento contra a epidemia eram, então, distribuídos pelas freguesias da cidade (Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1846-1855). O esforço da Câmara era conduzido no sentido de manter o controle da situação, primando pela saúde e pela não exaltação dos ânimos da população.



Pintura representando a doca das frutas de Porto Alegre. Athayde D’Ávila.



A partir de janeiro do ano seguinte, a epidemia já era menos um presságio do que uma realidade. Os moradores recebiam recomendações de todas as ordens, a fim de garantir a limpeza e salubridade públicas. Além disso, o comércio parece ter sofrido limitações. São publicadas posturas proibindo a venda de frutas, por tempo indeterminado. Ao mesmo tempo, era aprovada a construção de um paredão ao lado da Praça da Alfândega, a fim de conter os odores aparentemente emanados dali. Se a oferta de alimentos era pouca, os preços devem ter subido. Apesar disso, via-se um esforço da Câmara em conter a cobrança de preços abusivos pelos comerciantes (Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1856-1865).
Além das tentativas da Câmara de manter a cidade limpa, promovendo posturas municipais, obras públicas e outras medidas são notáveis as iniciativas populares que surgiram por vontade dos próprios moradores da cidade a fim de conter o avanço da epidemia. Várias são as atas da Câmara produzidas entre os anos de 1855 e 1856 que mencionam pedidos de autorização, licença ou consentimento para a construção de aterros sanitários, para o fechamento emergencial de ruas ou para a construção de muros em torno de residências para o isolamento de possíveis contaminantes surgidos dali.


Representação da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, por volta da década de 1850.


Em 7 de abril de 1855 os vereadores da Câmara “solicitam aos subdelegados do Município um mapa das pessoas contaminadas pela epidemia de cólera”. Em maio, a Câmara recebe do Chefe da Polícia um quadro estatístico sobre a mortalidade que causou a epidemia de cólera na cidade (Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1856-1865). Por todo o lado era possível notar que os vereadores e a população se preparavam e se guarneciam para o avanço da epidemia. Estradas eram fechadas, aterros surgiam com uma velocidade surpreendente, casas comerciais e praças eram muradas. Comerciantes pediam autorização para manter seus comércios ativos. Enquanto isso, agentes sanitários ligados ao serviço policial eram designados para a fiscalização das condições mínimas de salubridade dos negócios, praças e casas. A cidade, apesar do cólera, não podia parar.

Referências
Ávila, Vladimir Ferreira de. “Saberes históricos e práticas cotidianas sobre o saneamento: desdobramentos na Porto Alegre do século XIX (1850-1900)” Porto Alegre, 2010. 201p.
Porto Alegre. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Cultura. Àrquivo Histórico Moysés Velhinho. Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre; 1846-1855; v. IX. Porto Alegre, UE/Porto Alegre, 1999. 277p.
Porto Alegre. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Cultura Arquivo Histórico Moysés Velhinho Catálogo das Atas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, 1856-1865; v. X. Porto Alegre, UE/Secretaria Municipal da Cultura, 2000. 314p.

Texto elaborado por Thiago Frazzon Arend, estagiário em História do Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho (AHPAMV)
Porto Alegre, Março 2020. 

7 de abr. de 2020

Projeto Desarquivando entrevista Sérgio da Costa Franco #2: 

   Nesse vídeo, o historiador de POA fala sobre as diferentes Porto Alegres que se mostraram aos olhos de viajantes e cronistas, desde um pequeno porto luso-africano até uma moderna cidade germânica. Franco nos mostra como o gosto arquitetônico foi mudando na medida que crescia a cidade e mudava sua composição étnica, principalmente na virada do século XX, como esse gosto - pelo novo, moderno - foi solapando o patrimônio histórico da cidade, até a consolidação das medidas de proteção ao patrimônio, nos anos 50 e 60. Sobre a entrevistadora: Marli Rejani é historiadora e professora de história, e na época da entrevista trabalhava na Equipe de Patrimônio Arquitetônico Histórico e Cultural (EPAHC) da prefeitura de Porto Alegre. Participou, nessa entidade, do tombamento de diversos *patrimônios imateriais*, como o Bará do Mercado, as Lendas Tradicionais de POA, a procissão de N. Sra. dos Navegantes e outras pesquisas importantes para a preservação da memória cultural da cidade. Ao entrevistar Sérgio da Costa Franco, Marli proporciona o encontro de duas gerações de historiadores, duas formas diferentes de pensar a história, tanto no tempo, quanto no espaço. Sérgio preza pelos fatos, datas e grandes acontecimentos, enquanto Marli se preocupa com as lendas, as estórias e com o imaginário que constitui o povo e a cidade. Longe de entrarem em contradição, essas duas visões são complementares para entender a história como algo global, que perpassa desde os aspectos mais explícitos (como a arquitetura), quanto os aspectos mais subjetivos (as mentalidades e as lendas).

https://youtu.be/BOi7RE_PZRo

Atenciosamente,

Equipe AHPAMV
 

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